sábado, agosto 27, 2005

Corredores de Maratona

Estamos como corredores da maratona na linha de chegada: indo devagar e achando que os últimos metros são quilômetros. Mas, a gente chega lá. Este editor também pegou a sídrome dos metros finais. Tenho mais que uma dezena de histórias mínimas para publicar; vou, porém, deixando para amanhã. E chega de conversa mole. Vamos tomar um último fôlego e atingir logo os mil e tantos! Retomando a velha marcha, eis aqui alguns microcontos de Don Pablo.

834. Corria muito, corria pouco, corria nada. Os três chegaram no cemitério conforme programado no relógio biológico de cada um. (Pablo Rico)

835. A mulher o traiu com a ginecologista. Ele se vingou com o proctologista. (Pablo Rico)

836. Matou os filhos e a mulher a pauladas, mas não teve colhão para meter uma bala na cabeça. (Pablo Rico)


sexta-feira, agosto 05, 2005

Double R is back

Meu amigo Double R está de volta. Ele gosta de titular suas histórias mínimas. Como a regra dos 150 toques é para o texto do microconto, vou separar, nas histórias de RR, título e microconto propriamente dito. Outra coisa: RR assina Erre-Erre. Conservei essa assinatura em vez de separar, como em outras ocasiões, os R's.

Robin Hood

827. Rouba bolas dos grandes e famosos craques e as distribui aos jovens e inexperientes atacantes com insaciável fome de gol. (Erre-Erre)

Justiça


828. Era um autêntico ladrão de bolas mas nunca foi preso por isso. Sofreu ruptura dos ligamentos e hoje apita jogos na Várzea do Glicério. (Erre-Erre)

Regime


829. Comia a bola aos domingos no campeonato interno do presídio. Durante a semana conformava-se com a malcheirosa gororoba servida no refeitório. (Erre-Erre)

Superstição


830. Tinha pavor do mês de agosto, da tragédia sempre anunciada. Respirou aliviado ao constatar que o bicho que o perseguia só queria um pedaço do seu hambúrguer. (Erre-Erre)

Reverse

831. Preferia o joio ao trigo, dava pérolas aos seus porcos, ganhou prêmios como exportador no setor de alimentos e hoje é capa da revista Exame. (Erre-Erre)

Investimento


832. Dava aos pobres pensando algum dia acertar contas com o Criador. Hoje é um compêndio de doenças sexualmente transmissíveis e já não pensa no divino encontro. (Erre-Erre)

Previdência Divina


833. Olhava os lírios do campo, nunca se preocupou com o dia de amanhã. Sofreu acidente, ficou paraplégico e hoje vende bilhetes na Praça da Sé. (Erre-Erre)

Meia dúzia de Chico de Moraes

821. Na sala de espera, ela estava aflita. Outra jovem, com aliança na mão esquerda, tinha cara de esperança. Os resultados foram iguais: POSITIVO. (Chico de Moraes)

822. O deputado e o senador afirmaram ou negaram tudo com toda segurança, acusando-se mutuamente. Ficamos todos seguros de que ambos estão certos. (Chico de Moraes)

823. No dia seguinte, pensou: "O que pode ter acontecido ontem, que não me lembro?"; Na mesa de cabeceira, um bilhete: "Até abril!" ; E a data: 31/07. (Chico de Moraes)

824. A luta continua, companheiro! O que mais preocupa é o cheiro dessa coisa grudenta em que pisei. (Chico de Moraes)

825. A professora escreveu com letras miudinhas a data, após o nome da vila: Itaqueri da Serra, 28 de outubro de 1928. O menino então pensou: Oito anos! (Chico de Moraes)

826. 2080. Há 70 anos, os cientistas de Andrômeda congelaram o tempo na América do Norte. Hoje vão descongelar. (Chico de Moraes)

Mais um grão

820. É tão feminina que muitos acham que ela é um travesti. (j. novelino)

Pelarin pós oitocentos

816. Na conversa com seus botões soube tudo que se passava naquele guarda-roupa. (P. Pelarin)

817. Era realmente um cavalheiro. Depois de urinar, fazia questão de abaixar a tampado vaso. (P. Pelarin)

818. Foi depois de trocar o sofá da sala que começou, na vizinhança, aquele diz-que-diz-que sobre a fidelidade de sua esposa. (P. Pelarin)

819. Confirmou sua desconfiança quando encontrou na carteira do marido a foto de seu urologista. (P. Pelarin)

quinta-feira, agosto 04, 2005

Dois centos de posts

Mais um número para comemorar: este blog chegou à postagem de número 200. Não é pouca coisa no prazo de três meses e meio. Essas duas centenas foram alcançadas sobretudo porque vinte e dois entusiastas microconteiros compareceram. Mas, como dizem os jogadores de futebol, nada ainda foi ganho. Precisamos chegar aos mil e poucos microcontos. Vamos lá, autores e autoras!

Fidelidade

815. Em seu quinto casamento resolveu que aquela união seria para sempre. (j. novelino)

Razões do coração

814. A amante exigiu que ele continuasse casado. Não queria ser mulher de um homem infiel. (j. novelino)

quarta-feira, agosto 03, 2005

Kuller: 3+3

O Alemão inovou. Em vez de mandar três microcontos, mandou seis, divididos em dois conjuntos análogos. Além disso, resolveu gerar MC's a partir de temas. O primeiro tema: estados alterados de consciência. O segundo: vivência nas organizações. Mas, vamos ao que interessa: seis novos microcontos.

Série estados de consciência:

808. O primeiro gole desperta o desejo. O segundo copo ameniza a angústia. A segunda garrafa pacifica. A euforia começa depois. Depois...? (Zé Kuller)


809. Uma aspirada profunda. A paz. Intensidades de cheiros, luzes e sons. Navegar na possibilidade imensa do si mesmo. Serei Deus? (Zé Kuller)

810. Parecia uma brincadeira. Só uma mordida no cogumelo. Viu a vida refletida no espetáculo dos séculos. Rendeu vinte anos de terapia. (Zé Kuller)

Série vivência nas organizações:

811. Na organização, todos se entendem. Eu te sacaneio, tu me sacaneias. Eu finjo, tu finges. Papéis descartáveis e soltos ao vento. (Zé Kuller)


812. Abraçou o amigo que fora despedido. Enviou um e.mail a todos os endereços de sua caixa postal, menos o dele. Elogiou a demissão do incompetente. (Zé Kuller)

813. Tinha uma oportunidade única. Mudar tudo! Bastava a coragem de dizer um único não. Não disse. (Zé Kuller)

terça-feira, agosto 02, 2005

Pós oitocentos

801. Saiu do cinema em êxtase. O filme era banal, mas os amassos foram cinematográficos. (j. novelino)

802. Lê a lista pela décima vez. Quem passou no vestibular foi um homônimo seu. (j. novelino)

803. As amantes da cantora brega sempre são meninas de boas famílias. (j. novelino)

804. Ele é pobre. Porém, dá gorjetas gordas. Tem medo de parecer miserável. (j. novelino)

805. Não era ciúme. Era certeza de que ela achava todos os outros mais desejáveis que ele. (j. novelino)

806. Vítima de insônia, adorava filmes B. Estes eram o único remédio que o fazia dormir. (j. novelino)

807. O medo de baratas provocava nela um tremor que o deliciava em abraços protetores. (j. novelino)

segunda-feira, agosto 01, 2005

Oito Centos de Contos

As remessas de MC's andam agora raras e ralas. Não acho que seja falta de inspiração. Nem posso achar que seja preguiça. Vai ver que os autores estão dando um tempo. Espero que os próximos duzentos venham logo. O milheiro está ali na esquina. Dedos no teclado, povo microcontante!

791. As goteiras aumentavam, em cadência com um Mozart ao fundo. O maldito violinista estava de novo em cima do telhado! (C. Seabra)

792. O delegado batucava sambas na delegacia. Naquele plantão, ficou com as pernas bambas ao conhecer Maria. (C. Seabra)

793. Era um ladrão muito respeitado. Só caiu na boca do povo quando virou deputado. (C. Seabra)

794. Usava camisinha e sentia-se em pecado, mas quando parou de usá-la e morreu com aids não foi beatificado. (C. Seabra)

795. Muito organizada aquela mamãe gansa: põe um ovo todo o dia mas dois no sexta, que sábado ela descansa. (C. Seabra)

796. Era uma moça tão séria que nem quando lhe faziam cócegas na vulva ela sorria. (C. Seabra)

797. Aquela guerra era uma simulação, mas quando o videogame entrou em curto, foi bem real o choque que queimou sua mão. (C. Seabra)

798. Tudo lhe era motivo para otimismo. Quando um pássaro defecou em sua cabeça, regozijou-se pelos elefantes não voarem. (C. Seabra)

799. A gravata era a coleira de sua função. Enforcou-se nela quando soube de sua demissão. (C. Seabra)

800. O cacique foi levado à cidade grande, onde conheceu avião, computador, rádio, metrô e microscópio. Mas o que mais o impressionou foram as escadas! (C. Seabra)

Acertos

Falta ainda acertar um erro na contagem dos MC's. Ficaram de fora, num gato grande, o número 633, e a série de 657 a 665. Com a colaboaração do Seabra, vou fazer o acerto nesta postagem. Vamos lá! Com os números atrasados, aqui estão mais dez microcontos.


633. A enfermeira aplicava injeções tão bem que os elogios a seu trabalho eram abundantes. (C. Seabra)

657. Ele levantou o traseiro da cadeira mas os juros continuaram a tomar-lhe a dianteira. (C. Seabra)

658. Ele ainda não estava preparado para a inclusão digital e ficou com o analógico a lhe doer. (C. Seabra)

659. Nua na varanda, ela louvava a lua cheia, acompanhada por dezenas de olhos, atrás das janelas de luzes apagadas da vizinhança. (C. Seabra)

660. O chapeleiro maluco dava pulos de alegria quando chegava seu melhor cliente, um verdadeiro bicho de sete cabeças. (C. Seabra)

661. Apesar de agora ele ser um príncipe, ela sempre ficava com um gosto de batráquio na boca após cada beijo. (C. Seabra)

662. Os semícaros eram um povo unialado, cada qual com uma única asa. Para voar, tinham que escolher alguém e se abraçar. (C. Seabra)

663. O escritor plantou um pé de feijão mágico, que cresceu muito. Quando ia subi-lo para o castelo nas nuvens, foi detido por violar direitos autorais. (C. Seabra)

664. Espetáculo diário, a cada degrau que o velho subia, com o auxílio das muletas, soltava cabeludos palavrões, repetidos pelo papagaio do vizinho. (C. Seabra)

665. Lutando contra a ditadura, passou dos oitenta anos de idade, mas ao dar um mero passeio noturno no quarteirão, morreu atropelado. (C. Seabra)